segunda-feira, 8 de abril de 2013

Experimentação de ser






O curso Gestalt e Saúde veio ao encontro de um movimento que eu havia iniciado para a descoberta das formas que tenho delineado na minha história. Meios que encontrei para estar no mundo e que foram experienciados e corporificados em mim, como um registro de quem eu sou.

Há muito havia me negado a ouvir o que meu corpo falava. Na verdade, não me lembrava de, em algum momento, tê-lo compreendido. Não o percebia em suas tentativas de se comunicar. Às vezes, algo me parecia como murmúrios e tão logo reduzia a minha percepção como se fora apenas uma dor em nível orgânico e, portanto, nada tinha a dizer.

Foi então que me deparei, na primeira vez, com meu estomago e nós conversamos. Ele mostrou o quanto me conhecia, já que está comigo a minha vida inteira. Ainda que não tivesse me dado conta do seu trabalho, não reconhecesse sua função, ele estava ali, dizendo de seu funcionamento e de mim. Surpreendente!

Aos poucos me acordaram novos sentidos, ou ainda, os sentidos que desde sempre estiveram comigo, mas eu não os permitia sentir, não permitia essa abertura para o mundo. Não apenas estava alienada dessa percepção rica e sensível do mundo, mas de toda potencialidade de sentir a mim.

 Voltei a sentir cada parte, até então adormecida. Estive alheia ao meu corpo como se fosse outro alguém. Como se eu fosse alguém sem corpo. Nesses diálogos, comecei a estabelecer uma relação com meu corpo. Comecei a prestar atenção, senti-lo vivo, sentir- me mais viva.

Nesse movimento, pude presentificar meu corpo e ser todo ele, inteira. Diz Rubem Alves (2005, p. 31) que:



Quaisquer que sejam as realidades que me atingem, nada sei sobre elas em si mesmas. Só as conheço como reverberações do meu corpo. Os limites do meu corpo denotam os limites do meu mundo. Porque vejo as estrelas poderei dizer, com Bergson, que o meu corpo vai até elas.



Vivenciei o curso Gestalt e saúde como um encontro esperado, bonito, de pessoas adoráveis, que construíram além da compreensão dos pressupostos da gestalt-terapia e da metodologia do “diálogo com o corpo”, mas uma experiência de campo emocionante, linda, quase misteriosa.

As possibilidades que se enunciaram a partir do curso Gestalt e saúde, a partir desse olhar mais ampliado acerca dos processos da saúde e da doença se dão pelo reconhecimento dessa linguagem tão própria do corpo. Como um instrumento genuíno que vem auxiliar a outrem a decifrar sua linguagem, mas, antes, como uma maneira de presentificarmos nossos próprios recursos para operar em nós e no mundo.

É um exercício: buscar estar atenta a esses dizeres do meu corpo, contudo não me parecem mais murmúrios, mas melodias, como em uma CORPOESIA.*2


Josemara F. Veras Garcia*3



REFERÊNCIA:
ALVES, Rubem. Variações sobre a vida e a morte ou O feitiço erótico- herético da teologia. São Paulo, Ed. Loyola, 2005.

* Gestalt e Saúde: Psicologia das doenças somáticas, curso agora renomeado para Corpo e Saúde: Psicologia das doenças somáticas.
*2  Trabalho de conclusão do curso Gestalt e Saúde.
*3 Estudante de Psicologia e  aluna do curso Gestalt e Saúde: Psicologia das doenças somáticas em 2012, turma COPOESIA.

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