quinta-feira, 14 de junho de 2012

Adoecimento e a Clínica da Inclusão


 
Receber um diagnóstico médico, no caso de doenças graves,  é uma situação que envolve muitos sentimentos. Nesses casos, as pessoas se deparam com a perda de algo que tinham como certo, sua saúde. O desespero e a aflição são os sentimentos mais comuns que acompanham essas situações, bem como  as situações em que, por algum motivo, é necessária a amputação de parte do nosso corpo. Nesses contextos, muitas vezes, quem está mais perto do paciente são familiares e profissionais da área da saúde que, na maior parte das vezes, não está preparado para lidar com o que acontece diante desse sofrimento.

Uma das possibilidades de atuação do psicólogo clínico, seja no contexto hospitalar ou na clínica privada, é trabalhar com esse sofrimento e as decorrências do adoecimento, mutilação e as notícias e repercussões de procedimentos cirúrgicos necessários em casos de acidentes ou doenças graves. Quando se perde uma parte do corpo ou quando uma das funções que nosso corpo desempenha está comprometida, perdemos algo que faz parte  do nosso reconhecimento enquanto indivíduos, perdemos parte de nossa identidade social, não nos reconhecemos mais como uma pessoa saudável, não temos mais um corpo que funciona perfeitamente.

A esse sofrimento, na clínica Gestática, damos o nome de sofrimento antropológico, que faz parte da leitura da Clínica da Inclusão proposto por Müller-Granzotto e Muller-Granzotto (2012), e o sentimento evidenciado nessa clínica, é o sofrimento ético, político e antropológico (pedido de socorro frente à exclusão que o sujeito vive em diferentes contextos). A postura do clínico, nesse contexto, seria de oferecer uma escuta a esse apelo por suporte e inclusão e acompanhar o sujeito na tomada de decisões frente às dificuldades que esteja vivenciando, a fim de que ele possa voltar a fazer pedidos e alcançar uma autonomia possível.

O sofrimento do qual estamos falando é diferente do que surge como  queixa relativa aos sintomas da doença. Na queixa, pode haver a tentativa de fazer uso da doença para que o semelhante faça algo pelo doente, algo que o enfermo não pede quando está saudável. Diferente disso, o sofrimento antropológico é um apelo para lidar com a falta de dados (o corpo saudável), e a tarefa do clínico é a de ser um corpo auxiliar, fornecer a escuta, o sigilo e responder aos questionamentos trazendo dados concretos relativos a que o paciente necessitará fazer diante do quadro em que se encontra. Nesses casos, as perguntas são objetivas e não especulativas. Algo foi perdido e é preciso lidar com a possibilidade do luto de um órgão ou função, ou mesmo de uma função social desempenhada pelo sujeito, a qual, em decorrência desse estado, ele terá de abandonar.
É a partir daquilo que o clínico sente diante do paciente e do lugar que ele é convidado a ocupar que se pode identificar se estamos diante de um quadro de sofrimento ético, político e antropológico ou frente a outras formas de ajustamento. O clínico Gestático em sua formação aprende a identificar em seu próprio corpo esses sentimentos e sensações. E a fazer uso disso em proveito daquele que estamos atendendo: o resultado disso é um belo trabalho!
Maria Balbina de Magalhães Gappmayer*

*Mestre em Educação e Gestal-terapeuta há 19 anos. Coordenadora do curso Corpo e Saúde.
 
Referências:
MÜLLER-GRANZOTTO, M. ; MÜLLER-GRANZOTTO, R. Psicose e Sofrimento. São Paulo: Summus, 2012.

2 comentários:

  1. Ótima reflexão, vou compartilhar com meus contatos.
    Abraço,
    Paulo.

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  2. Oi Paulo, obrigada !!!
    Agradeço tua ajuda na divulgação.
    Fica ä vontade...rsrsrsrs.
    Bjs,
    Nina

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